domingo, 9 de dezembro de 2007

O poder das palavras...

Algo me silencia, este silêncio perturbador, este algo que ficou por dizer... Parece uma repetição, incógnita, do que um dia foi escrito, falado, comentado, revisto. Agora não passa de uma memória, esquecida por entre livros, entre o pó e as cinzas do esquecimento. Um dia tive tudo, tudo que um ser humano pode desejar... Tinha felicidade, amor, uma família, sucesso, reconhecimento, riqueza e paz de espírito.
Não tenho nada agora, sou um zé-ninguém, todos passam por mim, mas ninguém reconhece, por um erro que cometi fui esquecido para todo sempre! Quem não comete erros, uns são perdoáveis, outros não. Fiz o que se devia ter feito, expressei-me livremente, ingénuo era, pois pensava que vivia num país livre de opiniões sem preconceitos ou restrições a liberdade.
Fizeram tudo para calarem-me, como se de uma epidemia se tratasse, tinham de conter antes que se alargasse e tornasse proporções inimagináveis. É assim, por uma simples frase se atinge o céu ou inferno, tudo muda num segundo.
Tudo aconteceu por ter manifestado a minha opinião crítica sobre uma política que não achava mais correcta, era eu um jovem director de um jornal. Tinha inteligência, carácter e personalidade forte, grandes ambições e todos consideravam que o sucesso estaria aos meus pés, mas como todos os jovens era revoltado e lutava contra as injustiças. Essa mesma característica levou-me ao sucesso e ruína, pois quando comecei um jovem licenciado a procura de algo que despontasse para uma carreira feita de grandes feitos. Consegui uma entrevista com um dos grandes opositores, ao governo, fez páginas e páginas, sorte a minha que passados poucos dias o governo era derrubado, entrava em cena, o político que uns dias antes tinha entrevistado. Parecia uma nova era a renascer, tudo parecia uma novidade. Era do consumo apareceu cheio de força, tudo era novo, cheirava a novo, casei-me com a mulher que conheci nos meus tempos de universidade. Vivia os momentos mais felizes da minha vida, passados cinco anos nasceu o meu filho, fui nomeado director, não poderia desejar mais nada. O pior aconteceu depois dois anos, o governo agora parecia que tinha politicas que mais pareciam de uma ditadura do que uma democracia. Fui avisado várias vezes para me silenciar, mas nunca ligava cada vez era mais revoltado. Até que um dia, quando ia para casa fui interceptado por uns homens, levaram para uns calabouços. Ai fiquei vários dias a ser torturado.
Num dia acordaram-me a meio da noite e fui levado para outro lado, parecia uma velha casa abandonada. Deixaram-me num quarto vazio, onde havia ao fundo desse quarto, uma torneira sempre a pingar, dia e noite parecia a maior tortura. Cada vez mais dolorosas as torturas, não eram físicas mas psicológicas. Passaram dois anos assim, até que sem me aperceber parecia que uma luz entrava no quarto. Era uma nova esperança, consegui fugir, voltar para onde um dia fui alguém. Quando cheguei lá tudo tinha mudado, já ninguém era o que tinha sido. Disseram a toda gente que tinha morrido, a notícia espalhou-se, a minha mulher recomeçou a vida, o meu próprio filho já chamava pai a outro homem. Que mais poderia fazer, para toda gente tinha morrido, se calhar morri mesmo, tão já não valia a pena viver, fui sobrevivendo com as esmolas que as pessoas me davam. Agora sou um farrapo do que fui, já nada mais importa, quero apenas a morte, pois esta vida deixou de importar.