quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

Pai

Senhor!

Quero entender as palavras que tu escreves, mas não consigo...Fico a pensar nelas, durmo com elas, mas elas continuam a ser uma incógnita para mim como se de estranhos se tratassem... Elas não são iguais? Não falamos a mesma língua? Sim, mas não falamos a mesma linguagem, não temos a mesma sensibilidade, o mesmo tacto com as palavras... Eu deparo-me com elas a desafiar-me e tu é que as desafias...
Talvez seja a grande diferença entre nós. Enquanto eu as tento conhecer, elas a ti ousam conhecer o desconhecido, fazendo de ti misterioso e ao mesmo tempo sábio! Recorro-me do meu vocabulário, que, por sinal, não é vasto, nem tão rico, para te poder descrever mas fica sempre algo, reticências pelo meio, pontos de interrogação que fazem parecer um labirinto que onde só se sabe a entrada e a saída é algo que não existe! Perdoa-me por não conseguir manejar, reformular as palavras... Porque sempre me sinto vazio quando tento que elas sejam minhas, só minhas. Já basta ter-te partilhado, não poder ter-te junto a mim nas noites frias que a minha cama chama por ti e tu não estás. Já basta ter que sofrer em silêncio, soluçar em cima de uma almofada molhada. Levantar-me dessa cama e ir ver a lua, esperando que ela me dê um sinal de ti, que por mais pequeno que fosse já seria melhor que esta angústia. Deparo-me a tentar alcançar nas palavras o que em ti não consigo, preciso de te ouvir chamar por mim, ter-te junto a mim pela última vez para te dizer as palavras certas...
Sinto que partiste, porque sinto que aqui já estiveste, em pleno sortido das máscaras escondidas em que rodeávamos o tempo para podermos viver um para o outro… e agora, de tão confuso, de tão debilitado estar, já nem sei se foi ilusão ou um passado desejado…
Questiono-me. Questiono o meu Universo na busca da solução para o meu sofrer, para que consiga amainar a dor da tua ausência. Sei que nunca virás!
Guardo os papéis que são bocados teus, decorei frases feitas que tanto usavas nessa vida prática que sorridentemente levavas… Sim! Sonho em ser igual a ti!
Em criança eras a minha referência, como os anos passaram encontrei, pelo labirinto da vida, outras pessoas e em outras escritas descrevi-me fascinado pela herança que recebi.
Sabes Pai, quando a noite cai sinto-me outra vez aquela criança com quem brincavas, a quem davas tantos mimos.
Nessas noites de solidão em que o sono me foge, agarro-me a ti e desejo-te de volta, recorro aos teus escritos, para te sentir, para te ver e para que consiga chegar a cada mensagem tua.
Quero entender as palavras que escreveste… mas não consigo!
Paulo Afonso & Le Tab

segunda-feira, 14 de janeiro de 2008

Dois caminhos...


Se eu pudesse
Seria o verso
Na espera que fosses
Reverso.
Se eu soubesse
Seria o caminho
Que atravessa feito
Alameda florida
O teu caminho,
Onde havemos
De nos encontrar qualquer dia.
Se eu...
Ao menos fosse o que querias
Que tivesse sido.
Tudo poderia
Ter sido diferente.
Tudo nos passou
Pela mente.
Ideais,
Fantasias
Passando agora tudo
De recordações.
De um verso
Esquecido
Dum caminho em branco...
De algo a dois
Que terminou
Num só!
Se eu...


Isabor Navarro & Le Tab

domingo, 13 de janeiro de 2008

Natal, todos apregoam ao vento...vem ai o natal!


Natal, todos apregoam ao vento...vem ai o natal! Mas souberam o que quer dizer o natal verdadeiramente. Esta época, não passa mais de uma época para consumo. O consumo exacerbado, que as economias de escala deixam nas nossas sociedades. Aquele natal, onde todos se juntavam a mesa para saborear os doces, para juntar a família, o calor da lareira a ouvir os mais velhos a contar histórias mirabolantes.
Já lá vai esse natal, agora é a época onde a criança escolhe o presente que quer, reclama por não ter o tal presente. Os pais como não tem tempo para elas, compram o seu afecta a sua atenção dando-lhes tudo o que elas querem, esquecendo o mais importante o carinho, o gesto, uns minutos de atenção... Para onde caminharemos?
Acho que caminharemos para o mundo onde o dinheiro comprará tudo, onde tudo não passará de uma grande ilusão. Onde deixará de haver sentimentos, nem carinhos, nem manifestações nem gestos... onde a solidão reinará, a tristeza, a revolta, no fim de contas será uma luta pela sobrevivência, onde só o mais forte viverá...o resto morrerá...
Deixo uma pergunta será que vale a pena viver neste mundo? que se transforma a cada dia para pior.

sábado, 12 de janeiro de 2008

Máquina de escrever


Escrevo por detrás um homem que fui, ou sei nem sei bem o quê. De uma máquina de escrever antiga. Muitas histórias poderia ela contar em voz alta, mas deixou que eu falasse por ela... Dizendo tudo o que queria dizer que nunca teve coragem para tal. Um ser que nunca fui tratado como tal, muitos ousaram passar as mãos por cima dela. Mas sem cuidado e o requinte que merecia. Talvez por não saberem distinguir entre tocar de leve e tocar com sensibilidade com sentimento. Manejando como se de um corpo tratasse, explorando as suas fragilidades, fraquezas, polivalências. Mas isso tudo para um leigo é tudo a mesma coisa. Para alguém que sabe do que fala, alguém que escreve por sentir necessidade de escrever, não alguém que escreve apenas por necessidade. Sabendo tocar, respirar com ela, levando a ela executar manobras delicadas, proezas nunca antes imaginadas. Olhando para ela não como um troféu mas como uma conquista de amor, deixando a tinta na pele da nua folha branco os seus filhos, a sua obra-prima. Fazendo deles confidentes de noites abafadas, húmidas, quentes, suadas por essa temperatura abafante mas excitadas com o desenrolar dos acontecimentos. Sentindo prazer a cada tecla tocada, como se da primeira vez se tratasse. Isto seria como ela queria ser lembrada...mas lembrarão-se dela assim?

domingo, 6 de janeiro de 2008

Incauto



Sou apenas um homem rancoroso e mórbido....

Dado ao mísero que me cabe, só sobrevivo

Tendo n'outra vida, n'outra sorte me perdido



Um ar que sustive e que de boca aflora

Embora causa ao ser não tivesse,

E insiste o tempo sorrateiro,

Em não dar-me o descanso que mereço.



Vitimado, tendo a paz sorrateiramente roubada....

Por uma alma caridosa, vendo a minha não ser poupada

Não a sendo , ao gasto derramado pelo corpo

Minha mente n'outros cantos andam....



A dor fala por mim, salta diante dos olhos menos atentos...

Fazendo dela as páginas do meu livro ensanguentado..

Recriando factos que se apagavam da mente,

Desde então vivo por ela atormentado.


Torna a vida em puro sangue!


Junior A. & Le Tab (eu)